Digo o improvável:
a soberania gasta
o recinto imaculadamente vazio
as árvores inertes
profecias por escrever
o peito marcado pela aurora sem nome
nos confins de tudo
e no limiar do nada.
Digo o improvável:
canto como danço
na voz gutural e no gesto fino
e devolvo à mentira o palco
as tábuas irregulares onde pisam os pés
fábrica abandonada no fastio da tarde
e sem palavras ouvidas
o silêncio vetusto que não se cansa.
Digo o improvável:
arco com o peso da memória
invisto contra a tirania da memória
e debato-me no irreparável desejo
a fatia mais grossa da luz não depurada
e as mãos generosas
nas dádivas que não encontram sujeito.
Digo o provável:
não sei como são as dores
não sei desconhecer a matéria sensível
e da filosofia do modo
entre marchas solenes e opíparas comendas
revisito as cicatrizes oculta
sem pavio para exorcismos
no sempre curto testemunho
do trovejar com saliva contra o efémero.
Digo o provável:
erguidos os cálices
irrelevantes os párias
inconsequentes os perjúrios;
só o cingir do amor
o fausto manjar sem preço nem rótulo.
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