Desenho as vozes
no altímetro onde entoam as harpas
e de música tão terna
açambarco
o sumo escorreito no cais dos abetos.
Trago no espírito livre dos dias por haver
os despojos dos preconceitos baços
a literalidade das palavras
no avesso das metáforas incensadas
e de tanto teimar
aconchego nos braços
parágrafos inteiros
um livro que desmente a sabedoria
as onomatopeias costuradas a tinta-da-china.
Desenho as vozes.
Meãs e audíveis
projetando-se no céu desembaraçado de nuvens
contra os insultuosos contrabandos do tempo
contra a puída corrosão da fraqueza
contra contrariedades emulsionadas no tabuleiro
desenho-as,
luminosas e prestáveis.
Pela cor do vento
sei
que as compungidas dilacerações das almas
não tardam.
Pela cor do vento
e pelas vozes que se desenham
em estiradores não amuralhados
desconfio que está para chegar
a colheita invejável
a invetiva contra os pederastas do medo
o auto perfeito
contra os miasmas da usança.
Oxalá
tenha em mim as forças que houver
e não deixe nenhuma em saldo esbanjado
no inventário dos poros enxutos
no inventário das palavras destrunfadas.
Das vozes sobrepostas
retenho palavras avulsas
palavras que não compõem o inteligível
palavras rasas no miradouro perdido
e delas hausto a medula
desmentindo profecias terríficas
vésperas de dias feitos de noite
as miragens que não saem do laboratório
e figuras de estilo sem lugar na gramática
em vez
dos milímetros em precisa medida da voz
e das palavras
sopesadas em balanças de fina flor de sal
no traço certo
que subtrai o caiado da folha.