9.12.19

Contrato

Apostava tudo
na moeda pagã. 
Não tinha 
se não uma leve ideia
das flores havidas em instâncias anteriores
e das lentes ilegíveis
sobrava a presunção do dia esperado. 
As vozes voavam mais rápidas
do que as marés exibidas. 
Era o tabuleiro
de demónios sagrados
e números ao acaso
infundamentados
sem qualquer mnemónica
ou o travesseiro 
onde se agigantavam
os sonhos. 
Demónios sagrados, dizia. 
Não sabia o que queria dizer
aquela combinação de termos
e dizia-o
com a mesma perseverança
com que abjurava os dias pretéritos. 
Julgava-se 
um colóquio de si mesmo
o abastardado impropério 
que era a deserção interior,
involúvel. 
Ouviu falar nos deuses pagãos. 
Podia ser um farol 
onde podia proceder 
ao levantamento
da nova versão do eu. 
Mas os medos intemporais
levavam a melhor
num braço de ferro
em que seu era o braço molestado
e de ferro o braço dos medos. 
O que podia perder
se apostasse na moeda pagã?
Nunca se sentira bem
na floresta da incerteza. 
Não se intimidou. 
Os medos 
podiam hipotecar o tempo
mas era vez
de ser a sua vez 
de torcer o braço
ao código do porvir.

Sem comentários: