Não abro mão
da coroa de espinhos
da tabuada dos sete
do rigor do Correio da Manhã
da feijoada sem tripas
da literatura que é uma chaga
da prolixa fala dos aspirantes ao estrelato
dos negociantes e dos regentes em concubinato
da D. Graça da DGS
dos gurus condutores de almas
dos sebastiões em que o povo insiste
na diarreia verbal de S. Exa.
(o comentador incidental do reino)
dos fingimentos que se fingem a si mesmos
dos condutores que anularam o pisca
do incrível otimismo nacional
e do seu gémeo separado à nascença
o derrotismo federalizado
dos chicos-espertos (essas aves abundantes)
do ministro que ainda não percebeu que já não é
das mentiras que disfarçam as suas próprias farsas
dos agelastas inconsequentes
dos ignorantes que têm sempre uma opinião
dos eruditos do alto da sua pança farta
dos parasitas montados na ética republicana
nos aríetes das moralidades (sem exceção)
dos juízes em causa alheia
dos tribunícios sem palco que não seja o seu espelho
dos que tropeçam no conhecimento de tudo
(vulgo: tudólogos)
do Galamba
dos inovadores semânticos
dos tropistas das modas
da pandemia de influencers
do esgoto terminal que desagua no horizonte
da bandeira pútrida
e dos seus arautos sem saberem da sua decadência
e não abro mão
de um receituário de ironia.