20.10.22

Manifesto (à mente que manifesta sem mentir não se atirem pedras)

Não abro mão

da coroa de espinhos

da tabuada dos sete

do rigor do Correio da Manhã

da feijoada sem tripas

da literatura que é uma chaga

da prolixa fala dos aspirantes ao estrelato

dos negociantes e dos regentes em concubinato

da D. Graça da DGS

dos gurus condutores de almas

dos sebastiões em que o povo insiste

na diarreia verbal de S. Exa. 

(o comentador incidental do reino)

dos fingimentos que se fingem a si mesmos

dos condutores que anularam o pisca

do incrível otimismo nacional

e do seu gémeo separado à nascença

o derrotismo federalizado

dos chicos-espertos (essas aves abundantes)

do ministro que ainda não percebeu que já não é

das mentiras que disfarçam as suas próprias farsas

dos agelastas inconsequentes

dos ignorantes que têm sempre uma opinião

dos eruditos do alto da sua pança farta

dos parasitas montados na ética republicana

nos aríetes das moralidades (sem exceção)

dos juízes em causa alheia

dos tribunícios sem palco que não seja o seu espelho

dos que tropeçam no conhecimento de tudo

(vulgo: tudólogos)

do Galamba

dos inovadores semânticos

dos tropistas das modas

da pandemia de influencers

do esgoto terminal que desagua no horizonte

da bandeira pútrida

e dos seus arautos sem saberem da sua decadência

e não abro mão

de um receituário de ironia.

Sem comentários: