26.10.22

Protesto contra os que protestam contra o Outono

O musgo

dava uma ideia

do Outono. 

Do mesmo modo,

os cogumelos que medravam

livres

nos baldios à mercê 

do sortilégio outonal.

 

Desta vez,

as estações 

não estavam do avesso. 

 

As pessoas

paradoxalmente 

andavam tristonhas

refogadas em lume brando

pela chuva instalada há dias consecutivos

e a humidade bafa que emprestava

um ameno quase exótico

aos dias arrastados. 

 

As pessoas

desprezam o bucolismo do Outono. 

 

Não apreciam

a metamorfose das folhas das árvores

escrevendo o seu próprio óbito

na decadência selada pelo acobreado mágico. 

Se pudessem

os desavindos com o Outono

saltavam a estação,

melhor dizendo, 

saltavam as duas estações 

que obrigam a abrigo e agasalho. 

 

Os que desaprovam o Outono

não sabem

que o Outono não é o espelho da decadência;

é um amplexo que se ajuramenta 

na renovação que encontra sedimento

na hibernação heurística. 

 

Nós também hibernamos

sem ser um Outono 

que nos desaprova. 

 

As pessoas

invejam o Outono

porque não têm mão

na metamorfose 

que é a promessa do Outono. 

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