12.10.22

Estado de sítio

Estado de sítio:

tomamos a convulsão como verbo

reféns do imorredoiro protesto

contra o estado das coisas. 

Consideramos:

é da natureza das coisas

a sublevação 

contra a natureza das coisas

pois as coisas

em sua natureza

seriam destinadas ao malogro

se de nós soubessem 

a apatia. 

E nem que preciso seja 

adejar uma conspiração

devolvemos à nostalgia a sua inutilidade

por insatisfatória condição;

preferimos 

avançar a desmedo

arroteando os touros à medida que desfilam

desfazendo as bandeiras que se supõem

equinócios baratos

juntando nas mãos a neve vagamente prometida

coabitando na memória do presente 

– o maior presente que deixamos

em memória do futuro. 

A rendição 

não se traduz no nosso dicionário. 

Queremos ser procuradores do avesso continuo. 

Há quem garanta

tratar-se apenas de feitio mal concebido. 

Não somos desmancha-prazeres

nem é da nossa lavra

a contradição condenada a ser um logro. 

Não escondemos sob o tapete

as más cores que embaciam

o estado das coisas. 

Somos

apenas

seus legítimos artesãos

sem esconder 

as reentrâncias da contrafação. 

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