Estado de sítio:
tomamos a convulsão como verbo
reféns do imorredoiro protesto
contra o estado das coisas.
Consideramos:
é da natureza das coisas
a sublevação
contra a natureza das coisas
pois as coisas
em sua natureza
seriam destinadas ao malogro
se de nós soubessem
a apatia.
E nem que preciso seja
adejar uma conspiração
devolvemos à nostalgia a sua inutilidade
por insatisfatória condição;
preferimos
avançar a desmedo
arroteando os touros à medida que desfilam
desfazendo as bandeiras que se supõem
equinócios baratos
juntando nas mãos a neve vagamente prometida
coabitando na memória do presente
– o maior presente que deixamos
em memória do futuro.
A rendição
não se traduz no nosso dicionário.
Queremos ser procuradores do avesso continuo.
Há quem garanta
tratar-se apenas de feitio mal concebido.
Não somos desmancha-prazeres
nem é da nossa lavra
a contradição condenada a ser um logro.
Não escondemos sob o tapete
as más cores que embaciam
o estado das coisas.
Somos
apenas
seus legítimos artesãos
sem esconder
as reentrâncias da contrafação.
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