Passaporte.
Passa porte.
Passa (o) porte.
Passa (o teu) porte.
Parte.
Refúgio nas palavras. A melodia perdida. Libertação. Paulo Vila Maior
O pensamento faz barulho
onde o corpo se esconde
quando a matéria anoitece.
O pensamento faz barulho
onde se encontra com o silêncio
quando as mãos estrénuas
esconjuram as vozes fraquejadas.
Quando
esquartejada a angústia
em finas camadas de frio
amanhecem as luas antigas
sobre o pano desarrumado dos sonhos.
A bucólica boca bebe de um trago
toda a baba dos pesadelos arqueados.
Tece os socalcos que descem
até sobrarem os silêncio ungidos
por deuses demissionários.
Mas o pensamento
continua a fazer barulho
até onde é ermo o lugar.
E esse
é todo o património
da humanidade.
Primeiro,
ministro.
Segundo,
vítima.
[Como reabilitar uma carreira política em meia dúzia de páginas]
O mundo anda estranhamente modesto:
tem os Países Baixos
mas faltam
os países altos.
Os corpos esbracejam
multidões ansiosas por um aval
os seus abusivos xailes cobrem o silêncio.
Não há quem desmate a floresta sem luar
não há ninguém no arrumado altar das fugas
e os bardos já não têm repertório
vencendo, enfim,
o silêncio.
Os cálices maduros sobem às bocas.
Desaprenderam a nostalgia
e agora
saciados
compõem as fragas por se despenha o medo.
Sem céu por abrir ao luar
sobra a meada de neve
o longo apeadeiro onde se consomem as almas
no vindouro espelho que espartilha o passado.
O ontem
deixou uma amálgama retorcida
nomes e lugares e rostos e casas
embaraços tenentes da matéria puída
toda uma constelação de lúgubres lugares
à espera de lugar
na sepultura.
À gramática do Outono:
as folhas desmaiam
juram que voltam a ser vulcões.
Deixam nuas as árvores
remexidas pelo Inverno impetuoso.
Não há nada mais inteligente
do que o Outono.
Mando no precipício:
não são os avestruzes vetustos,
os cicerones dos campos minados,
deduzem
que serão maltrapilhas as cabeças
assim encestadas na toca
onde desamanhece o lobo censitário.
Se por precipício se entender
a mando de uma metáfora
acendem-se as sirenes
cimentando o sonoro protesto
tirado à prova dos nove entretanto.
Se forem contumazes
os boémios adestrados
seja dada corda à cantilena arcaica
montadas as memórias altivas
o autêntico sublinhado da melancolia.
Não é por erro
a carta da melancolia que sobe à mesa:
podiam os desalentados do presente
abrilhantar a nostalgia
tudo o que conseguiram
foi três pétalas de melancolia
no sopé do precipício
que tinha ares de miradouro.
As mãos
tocam a carne suada,
levam à boca
a alvorada
que torna o dia opulento.
Na coreografia sem roteiro,
os corpos ensaiam o auge.
Agarram-se
aos dedos máximos
que devolvem
a claridade anestesiada.
Se as paredes soubessem,
eram poetas.
Se o fundo for o magma
e as fruteiras colhem a madurez
os rostos cerrados proveem o adiamento
e do luar apeado não houver regime
as jornadas serão curadorias das bocas sedentas
o calendário previsível
ou apenas o vinho rasteiro ante dois dedos
de conversa.
A iluminação
dos combustíveis fósseis
– parece mesmo que disse
a repórter na televisão.