Eram todas estas contradições
a trovejarem
sobre todos os ontem de que és feito:
um pião a rodar ao acaso
a ementa por gastar
ao longe um uivar de cães sem sono
as artes talvez de pesca deixadas para trás
um diplomata perdido na conspiração da tarde
e tu,
tão melancolicamente jovem,
convencido do passado
empenhado
até à medula mais funda das pobres moedas.
Não encontravas
o mel que dizias rimar com as palavras
mas só as que tinham a tutela da tua boca;
em vão
sobre o vau em que giravam os rostos avivados
uma serenata sem musa ocupava o som,
deletéria,
arrematando os nós da alma
contra as tempestades
no atroz medo que não te pedia licença
à mostra do vento
em incontáveis esgares que disfarçavam
o rosto.
Ouvias dizer que o luar tudo curava.
E falavas com a lua
noites a eito
sem perceberes
que não eras curador de um diálogo.
De cada vez
que o teu peito esbarrava no lodo do cais
subias as muralhas
outrora inacessíveis
só para dizeres
com a voz inteira com que foste criado
que podiam tirar a argamassa do medo
coar o colostro dos demónios
para te declares dono do estuário todo.
E ainda que desmentissem
a posse desse império
não te importavas:
esse foi um usufruto apenas declarado
nas tuas interiores áleas
feitas de sangue dourado.