Se fosse radialista
nunca passava Ana Lua Caiano.
Se fosse turista
nunca seguia os roteiros.
Se fosse otimista
não apertava a mão ao Costa.
Se fosse tribal
mandava o Ventura à merda.
Se fosse consensual
desmentia os gurus das almas.
Se fosse transparente
não tomava hóstias ecuménicas.
Se fosse teimoso
aconselhava atores canastrões
a serem apenas canastrões.
Se fosse mecenas
subsidiava o silêncio sabático
de uns quantos soi-disant artistas.
Se quisesse reconhecimento
vendia a alma a mercadores de almas.
Se fosse erudito
calava a angústia.
Se fosse criança
era só para poder dizer
quando for grande quero ser.
Se fosse adulto
era para voltar à infância.
Se fosse resistente
só me importava com o porvir.
Se fosse engenheiro
tocava piano.
Se fosse elegante
não enchia a boca de tolos.
Se tivesse frio
não vivia aqui.
Se fosse preguiçoso
não tinha vergonha dos adiamentos.
Se fosse míope
era refém das ideias cristalizadas.
Se sofresse de medo
precisava de meia-dúzia de gatos.
Se não fosse por nada
tinha a mania de muito.
Se não fosse pela cristaleira
era o elegante elefante
mesmo no meio da sala.
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