25.6.24

Se fosse radialista nunca passava Ana Lua Caiano

Se fosse radialista

nunca passava Ana Lua Caiano. 

 

Se fosse turista

nunca seguia os roteiros. 

 

Se fosse otimista

não apertava a mão ao Costa. 

 

Se fosse tribal

mandava o Ventura à merda. 

 

Se fosse consensual

desmentia os gurus das almas. 

 

Se fosse transparente

não tomava hóstias ecuménicas. 

 

Se fosse teimoso

aconselhava atores canastrões

a serem apenas canastrões. 

 

Se fosse mecenas

subsidiava o silêncio sabático

de uns quantos soi-disant artistas. 

 

Se quisesse reconhecimento

vendia a alma a mercadores de almas. 

 

Se fosse erudito

calava a angústia. 

 

Se fosse criança

era só para poder dizer

quando for grande quero ser. 

 

Se fosse adulto

era para voltar à infância. 

 

Se fosse resistente

só me importava com o porvir. 

 

Se fosse engenheiro

tocava piano. 

 

Se fosse elegante

não enchia a boca de tolos. 

 

Se tivesse frio

não vivia aqui. 

 

Se fosse preguiçoso

não tinha vergonha dos adiamentos. 

 

Se fosse míope

era refém das ideias cristalizadas. 

 

Se sofresse de medo

precisava de meia-dúzia de gatos. 

 

Se não fosse por nada

tinha a mania de muito. 

 

Se não fosse pela cristaleira

era o elegante elefante 

mesmo no meio da sala.

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