18.5.15

Elogio da loucura

Vozes embargadas
sorrisos lunáticos
medos tresloucados
prisões mentais
passeios apoquentados.
Loucos aprisionados dentro de si
como lobos esfaimados da liberdade
e, todavia,
pressentem o resguardo do manicómio.
Patologias e comprimidos
angústia interior de fantasmas dispersos
mãos trémulas que são queimadura da vida
noites em gritos lancinantes
por temor do que só eles sabem ser temor.
Loucos de si
e pela lente dos não dementes como nós
ou talvez tudo no seu contrário:
eles, ao menos, desconfiam que o são.
Congeminam um sentir genuíno
palavras desprovidas de peias
gestos sem decaimento:
uma afinal lucidez que devolve a demência
aos que de fora os olham como loucos.
E nem que as grilhetas da noite sussurrem ao ouvido
em prédicas canibais que só eles escutam;
nem que fantasmas comam o pensamento
e que de fora sobressaia pesporrência
dos titulares do pensamento arejado;
nem que os loucos estejam sitiados num cárcere
e por dentro das suas cabeças voem monstros alados
e nós, os orgulhosos da lucidez,
tacanhos de loucuras indecifráveis;
e nem que se joguem os mitos todos
contra as paredes dos manicómios
e se desfaçam na poeira singular
dos singulares gestos loucos
– nem contra todas as intempéries mentais
ou contra os arrevesados descaminhos em que se amordaçam
e menos ainda
contra a lividez que destempera os lúcidos do espaço:
sobram as algemas nuas
outrora alojamento de um louco sem freio.
Mas são os loucos que domam
os cavalos selvagens que povoam as paisagens
por mais que julguemos
(os arrogantemente desembargados de condições mentais)
que pegamos na crina do cavalo
e somos seu máximo tutor.
Dos loucos aprendemos o desapego
a filosofia dos corpos sem tédio
os esgares teatrais que só fazemos na intimidade
o indomável pensamento que segue
livre e destemperado
pelas fronteiras dos ilimites.
Até que nos alvores de um tempo imaginado
loucos o não sejam
devolvendo a impureza da loucura
aos tantos saudáveis que a escondem
debaixo dos saiotes que são refúgio covarde.
Pois por dentro dos sonhos inconfessáveis
sonhamos ser loucos.

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