12.5.15

Louvores matinais

O velho da barba rala
em tendo ido comprar o leite do dia
e enquanto esperava que o semáforo desse passagem
entreolhou as pessoas à sua volta
que transitam na azáfama que ele deixou de conhecer
(méritos da reforma).
Passa um autocarro à pinha
e o chão debaixo dos pés é como tremesse.
Noutro troar, agora vindo dos céus,
um avião desce para o aeroporto.
O velho
à medida que desenriça dois pedaços de barba
indaga de onde virão as pessoas naquele avião
e se somam mais fortuna que as pessoas do autocarro.
O velho quase decai:
quase sente uma teimosia a esbater-se
quando, num ápice,
se adivinhou na distante cidade de onde viria o avião.

(Ele que nunca foi cinquenta milhas longe de casa
e sempre teve medo de apanhar um avião.)

O semáforo pôs-se verde
e pareceu que tudo parou:
ele era o único utente da passadeira.
O avião foi à sua vida
o autocarro também
e o leite lá se fez, tépido, ao pequeno-almoço.

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