16.11.20

Enxertia

Desenho o perímetro da costa

com os dedos entrelaçados

ao vento de estibordo.

Contenho os limites da paisagem

no rebordo das mãos.

O vento alisa,

superficialmente,

o cabelo testemunha.

Não sei das artes de navegar.

Alguém cuida da função

por mim.

Não lhe sei do rosto

nem sei se as mãos são confiáveis.

Não importa.

Suspeito que o mapa

sairá paradigmático

um portentoso achado na cartografia

enquanto a da alma se treslê

em figuras disformes

que se enxertam numa banda desenhada

enquanto estrofes sem vinagre

se derramam nas páginas 

que só existem nas varandas do pensamento.

Um sobressalto bule com o barco

e mal me disponho para a simetria.

Oxalá não fosse a validade das almas

o altar menosprezado

onde nem as marés se arpoam.

De mim dou o possível

que aos da argamassa da ufania

deixo o díodo do impossível.

De mim

há de vir ao mundo

a maresia retratada nos mapas

cinzelados por meus dedos desaprisionados.

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