13.11.20

Esconjurado

O soalho suado

recebe os corpos em sede;

deles fará sua sede

no exato momento frondoso

o campo das framboesas

que fermentam na chuva diurna. 

Não posso saber do crepúsculo

que em seu sal desmaia;

habitaria nas levadas bucólicas

se a lua não se escondesse do dia

e as palmas das mãos sangrassem

a urze desmaiada. 

Os óbitos vêm no fundo de página.

Não se encomendam elegias

e os oradores oficiais do reino

já andam à procura de ofício. 

Fossem prematuros 

os demónios encastrados no trivial remoço:

sob o verniz dos notáveis

está o seu incenso boçal

no singular desprezo pelos pergaminhos 

e os cantos não canoros que destoam. 

Ah, se só soubesse nadar

no improvável desgosto das marés,

se soubesse desenhar os contornos da maresia

se ao menos fosse a minha melhor companhia

não precisava de tirar os dados à sorte

só para não calhar o azar. 

Demando ao sangue domado

a contradição de termos

o rol das personagens afastadas

o hidrogénio que alisa o dia

as verbenas de viúvos atiçados

e todo o falatório gratuito

no sopesar das invetivas que se desarrumam. 

Não interessam as competições bolorentas

as juras feitas na véspera de Baco

os gatos que uns querem como cães

os dentes à mostra no sorriso emaciado. 

Devolvam as cartas viáveis

ao tabuleiro onde dançam as presas

façam o concurso dos estetas 

na comparação dos paradoxos 

sim senhor. 

Bebo o vinho de ontem

e urdo conspirações olímpicas

só por desporto

só porque sim. 

Senhor. 

Desenganem-se os esperançados de última hora:

não é desse senhor que faz constar

a prece sem métrica admitida. 

Os olhos cansados 

não se arrumam no sono.

Continuam a remar

teimosamente

nos mares imensos 

que se atravessam num espaço de um sono.

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