6.6.22

Dever geral de silêncio

Na fila para pagar a gasolina

olhou de lado para o espelho

que mostrava a sua silhueta

em vez dos gelados adriçados.

Um silêncio insólito

incómodo

trespassava o estabelecimento.

Ninguém queria falar.

Sentiu a ponte levadiça

para a humanidade sem remédio.

Ele há tanta gente a querer falar

impedida por tiranetes a destempo

e naquele lugar

todos renunciaram ao dever de falar.

Como o copo está sempre meio vazio

percebeu:

quem não tem 

apurada coisa para pronunciar

que se remeta ao irremediável remendo

do silêncio.

Sem comentários: