15.6.22

Palavra dada

Se a voz for meteorito

que leve no dorso 

o ouro sem bandido.

Dizem 

que somamos o conjunto dos verbos avessados

por mercê do estado iracundo

escondido nos contrafortes sem exibição.

Dizes

que sou asceta propositado

artesão despojado de artes

limitado à fala sem estribo.

É esta gramática ingénua

em páginas sem burel

que se levanta contra os compêndios

contra 

os anacoretas devolvidos a torres de marfim,

manifesto válido em pétalas de granito

contra 

os chás tomados em tenra idade 

– o melhor critério para enviesar petizes.

Dizes

sem seres juíza em causa com guia de marcha

que não sabes como ser como sou

e um esteta de reconhecida linhagem

não o diria melhor.

Dizem

que o sangue furibundo que habita as veias

seria o pano de fundo para a tela

à espera 

dos dedos providenciais dos voluntários.

Uma obra coletiva

apascentada nas ofertas diligentes

de muito briosos patrícios.

Em vez de medo

voluteia um velho disco 

no som arranhado do seu muito uso.

Ninguém é feito 

se não desta estreita margem.

De apeadeiro em apeadeiro

sem conservar os nomes na memória

azula-se o dia com o pressentimento do luar.

Os desencontros são a mestria dos contratempos

um desalinhamento estrutural 

que nos coloca a destempo

reféns de lugares diferentes

notários de diferentes figuras de estilo.

Pois é estilístico,

e garbosamente recomendável, 

alardear uma erudição que se não tem.

Assim como assim

a quase ninguém será dado saber da falácia

e em defesa do aparente erudito

há sempre a hipótese 

de o confundir com um gongorismo.

Sem comentários: