4.12.24

Injustiças indocumentadas (465)

Mar da palha: 

a moldura 

para os frequentes fala-barato;

eufemismo dos gongóricos.

#3340

Dou-te o escudo 

para à penumbra te remeteres 

em refúgio do mundo tonitruante.

3.12.24

Longitude e latitude (fundação)

Não uses a volumetria da inércia

para sacerdotisar os desterrados

os que por voluntário bocejo

se retiraram das regalias da pertença

e ficaram à mercê 

dos mastins habituais. 

 

Não conspires

que ainda te apanham as meças 

como se houvesse uma Meca diferente

e os mais diligentes subissem com o arpão 

para desfazerem as tiranias 

que nunca adormecem. 

 

E todos 

depois de desarrumados por sonhos escanções

seriam páginas em branco

baldios sem ordem para arrematar

o pensamento deslumbrante

átomos de poesia à prova de coletâneas 

no insensato rumor que morde os ouvidos

e dispara a discordância.

 

Não são tuas 

as lágrimas perecidas no labirinto

e tuas não são as palavras magoadas

colhidas no úbere da solidão. 

 

No apeadeiro

combinas as formas nítidas da lua

com as estrofes sem métrica 

e sabes

que de ti não esperam feitos

pois tua 

é a arte da desfeita.

#3339

A lua nova

é o seu rosto interino, 

à espera de vaga.

2.12.24

Chamamento (Inverno)

O degelo que marca a ferro

a cortina derruída atrás do sol

e um punhado de gente

sóbria

caminha no fino fio do dia haurido.

 

São os profetas sem causa

sócios correspondentes de nada

um estatuto intumescido na fibra meã

contando por suas 

as efémeras raízes dos outros.

 

Lá fora

está tudo pronto para invernar.

 

Esperamos pelo pleito

os mantimentos reunidos

para o exílio no labirinto do destempo.

 

A paisagem

sob a tutela da penumbra

deita a noite larga sobre a testa impaciente.

 

Quando chegar o Verão

vamos sentir a falta 

do invernadeiro.

Injustiças indocumentadas (464)

Para chegar à tenra idade, 

Fecunda-se no choque térmico 

a que se sujeita o polvo 

em sua pré-cozedura.

#3338

O salvo conduto 

a diplomacia 

que dispensa palavras.

1.12.24

#3337

Somos 

a amálgama dos tempos 

chãos de diferente cepa

passageiros de almas furtivas

olhares habitados na fenda dos lugares.