11.12.24

Bilhete de identidade

Sou 

de mim 

o luar escondido

verbo afeiçoado no lacre do dia

vulcão sem nome 

que ajeita a lava furtiva

peito estuário à procura de cais

devastação que promete um arco-íris

miradouro 

por onde entram os olhos plenos

poema inteiro dito no vagar das sílabas

cidade que se deita sem horas

navio sem ser mercante

entre as alvíssaras do medo dos navegantes

e a audácia dos inventores de lugares.

 

Sou 

em mim

cada lugar tangido em demandas acesas

as pessoas que foram morada

as estrofes ainda à espera de vez

um inventário a esmo

os lustros contados de memória

o corpo onde o sol nomeia o paradeiro

um idioma à prova de regras

o general das desregras

em cerimónias sem destinatários

desfilando nas salas vazias

cortejando a solidão

ou

desafiando a solidão.

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