17.12.24

Manual contra o tédio

Quantas foram as vírgulas 

ao comprido

o sangue enxuto na maresia

diuturna

os espelhos sem colheita no penhor

contratado

as luzes assenhoreadas no sonho

desenfreado

as notas em cima de papel avulso

os diamantes estilhaçados nas mãos

cinzeladas

um corte a eito como se não houvesse

montanhas

um responso do mendigo ao cura

sem consentimento

o invisível lugar no lugar do medo

o fogo extinto a meio do Inverno

o navio relutante à espera da enseada

as comendas a fazerem de conta

que são títulos nobiliárquicos

a matéria sofrível nas bocas ciclópicas

os cachimbos como peças de museu

o chapéu de coco também

uma ovação coeva para os precisados

a descoberta das descobertas 

enquanto ficamos à espera do passado

o apuro das almas quebradas

o terramoto interior que pede ciência

a fala frágil que foge da fecundidade

o estribo acertado com as convulsões datadas

o antes embora do que jura depois

a parede transparente que se agiganta

na sombra do luar

os beijos sentidos que intercedem pelo dia 

claro

um cavalo que porfia no meio da tempestade

o ângulo morto contra a aresta viva

um novelo de verdades a pedirem licença

às mentiras

o contrabando das almas

à sua revelia

a espada desacertada a ensinar

os beligerantes encartados

o veludo aninhado no meio das mãos

a pedra de toque e o toque de Midas

o contrarrelógio combinado contra

as divindades

o corpo esbelto a posar 

na tela centrípeta

as juras sem consequência

a jactância dos senhores disto tudo

o controlo antidoping

o poeta sem aditivos

o dia sem espinhas

o modo inteiro

o adiamento 

a cura dita

sem milagres

sem armadura

sem fantasmas a peso

sem a mínima veleidade dos mastins

sem cambalear nas arcadas sombrias

da noite. 

Quantas foram as interrogações

que ficaram órfãs?

Sem comentários: