3.7.25

Selo branco

Não soam os verbos puídos

com o advento do crepúsculo:

não querem sair do esconderijo

dispensáveis 

ao saberem da gravidade da maré reinante.

 

Mas

às vezes

(mais)

é preciso dar lugar às palavras-parafuso

aos estrénuos, lancinantes versos

que cozinham as coisas em cru

deixando as madrugadas órfãs

por ausência justificada

numa maceração atónita.

 

E as ondas embutidas na pele sacrílega

fumigam os lugares-comuns

como se as pessoas pudessem

com a franqueza que não é atributo

despossuir-se das amarras de outrora.

Carimbam as palavras

que não deixam créditos à indiferença

impassíveis 

à reprovação dos estandartes do regime

as pessoas suas cultoras

elas sim

indiferentes à censura

que morde em vez da amnistia.

 

Os anéis apertam a jugular

jogam as partidas dinamitadas

sobre o chão insalubre onde se encontram

as raízes de quase tudo.

 

Amanhecemos nas bocas plenas

e não esperamos pelo tempo

habilitamos nós mesmos 

as falas que condoem

os espíritos avulsos que não desistem

de serem órfãos

mas se confundem com vítimas.

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