Não soam os verbos puídos
com o advento do crepúsculo:
não querem sair do esconderijo
dispensáveis
ao saberem da gravidade da maré reinante.
Mas
às vezes
(mais)
é preciso dar lugar às palavras-parafuso
aos estrénuos, lancinantes versos
que cozinham as coisas em cru
deixando as madrugadas órfãs
por ausência justificada
numa maceração atónita.
E as ondas embutidas na pele sacrílega
fumigam os lugares-comuns
como se as pessoas pudessem
com a franqueza que não é atributo
despossuir-se das amarras de outrora.
Carimbam as palavras
que não deixam créditos à indiferença
impassíveis
à reprovação dos estandartes do regime
as pessoas suas cultoras
elas sim
indiferentes à censura
que morde em vez da amnistia.
Os anéis apertam a jugular
jogam as partidas dinamitadas
sobre o chão insalubre onde se encontram
as raízes de quase tudo.
Amanhecemos nas bocas plenas
e não esperamos pelo tempo
habilitamos nós mesmos
as falas que condoem
os espíritos avulsos que não desistem
de serem órfãos
mas se confundem com vítimas.
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