A flor
beija a noite
que a costurou.
O nevoeiro
sitia a cidade
num pesadelo contumaz.
A fala
conspira uma mudez
no estertor da solidão.
Uma ponte
a soldo dos rebeldes
amanhece contra os prognósticos.
A estrada
consegue ser um vazio
sempre a fugir dos outros.
A madrugada
vence a atalaia dos sentidos
no verso acanhado dos deuses sem sono.
Um idioma
sobe pelos dedos túrgidos
rouba os emudecidos lábios.
Até que extremados
os loucos vegetam na lua possuída
desfeiteando os demónios em barda.
Páginas depois
o olvido impede a nostalgia
dos circenses que desabençoam a fogueira.
Tarde
o bocejo arremata um par de minutos
até os curadores do medo deporem.
Calada
a boca sela
a angústia estilhaçada.
O vento
vem de longe
contar uma matemática sem números.
Vem contar
entre meadas de vozes sibilantes
os segredos mal guardados.
Até que
os cobradores do futuro
se fechem na escuridão que os açambarca.
Então
invisíveis aos olhos lúcidos
desapertam a escotilha e falam.
Falam
incessantemente
com as sílabas todas sem vergonha.
Como
dentes-punhais
cortando a carne podre a eito.
Para então
cúmplices
desassorearem a mudez contrafeita.
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