23.7.25

Sobre a sorte

A flor

beija a noite

que a costurou.

 

O nevoeiro

sitia a cidade

num pesadelo contumaz. 

 

A fala

conspira uma mudez

no estertor da solidão. 

 

Uma ponte

a soldo dos rebeldes

amanhece contra os prognósticos. 

 

A estrada

consegue ser um vazio

sempre a fugir dos outros. 

 

A madrugada

vence a atalaia dos sentidos

no verso acanhado dos deuses sem sono. 

 

Um idioma

sobe pelos dedos túrgidos

rouba os emudecidos lábios. 

 

Até que extremados

os loucos vegetam na lua possuída

desfeiteando os demónios em barda. 

 

Páginas depois

o olvido impede a nostalgia

dos circenses que desabençoam a fogueira. 

 

Tarde

o bocejo arremata um par de minutos

até os curadores do medo deporem. 

 

Calada

a boca sela 

a angústia estilhaçada. 

 

O vento

vem de longe

contar uma matemática sem números. 

 

Vem contar

entre meadas de vozes sibilantes

os segredos mal guardados. 

 

Até que

os cobradores do futuro

se fechem na escuridão que os açambarca. 

 

Então

invisíveis aos olhos lúcidos

desapertam a escotilha e falam.

 

Falam

incessantemente

com as sílabas todas sem vergonha. 

 

Como

dentes-punhais

cortando a carne podre a eito. 

 

Para então

cúmplices

desassorearem a mudez contrafeita.

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