Costurássemos os costumes com o carvão do medo
as viúvas ao deus-dará
(oh, heresia, que Deus permitiu,
talvez distraído,
que uma palavra inspirará em seu nome
fosse iniciada com letra minúscula)
ao deus-dará as viúvas,
dizia,
portadoras desses funestos véus
que ninguém ousa postergar.
Oxalá a algazarra dos petizes não termine;
precisamos de uma mnemónica da infância
para avivar a memória
de como era ser infante
sem consumições porque o mundo à volta
ainda não existia
e agora
que já não nos gabávamos da adulta idade
sabíamos que o fingimento se apoderara de nós.
Fingíamos moderação
um espelho desimpedido
para as palavras das outras bocas
e nós
enjeitando a autarcia
crescíamos como autarcas de um voto só.
Às vezes
apetece agarrar a vida pelos colarinhos
depor a ira em forma de babugem
ou a ira arrancada a ferros das notas de rodapé
de dicionários vetustos e esquecidos
nas arrecadações mentais.
Apetece cuidar do dia
como se durasse meses a fio
e exilássemos as páginas desaproveitadas
as páginas que não cumpriram a folga do futuro.
Outras vezes
deixamos que o tempo seja refém
das mãos que entrelaçamos
e das palavras murmuradas no cais do silêncio
trazemos estrofes arregaçadas ao rosto
é como
se emprestássemos os rostos à chuva outonal
e desmatássemos todas as vírgulas gongóricas
as que enxameiam o poema diário
com as luas altivas
que ensinam as maneiras válidas
de sermos testemunhas primordiais
do belo em que o mundo se encerra
e nós
nós somos o seu mapa,
mundo.

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