Às vezes
povoava a cidade
com as cores do meu sorriso.
Enfeitava-a com os dedos desassisados
ela precisava de desarrumação
esconjurava as caricaturas andantes
jurava então um despojamento freático
virada do avesso
até ser cais dos pássaros itinerantes.
E a cidade mudava de rosto
todos os dias
como se as ruas mudassem de lugar
ou sem mudarem de lugar
mudassem só de nome
vomitando o cimento inerte
amordaçando
os procuradores dos bons costumes
naufragados num rio sem paradeiro.
Os que juravam orfandade
Sitiados pela metamorfose da cidade
condenados a serem nómadas
sem saírem do lugar
arrepiados pela contrafação de si mesmos
limitavam-se a bolçar o silêncio arrependido.
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