A
neblina temporã
mistura-se
com os olhos estremunhados.
O
tempo levanta-se devagar.
Devagar
como
as gotas do orvalho
que
pendem da janela.
Pudera
uma moldura da memória
guardar
este sortilégio.
Pudera
que as palavras conseguissem
emoldurar
a quimera.
Os
violinos sopram ao longe
sussurram
às veias a inteireza de nós.
E
nós
tomamos
por moldura
a
janela de onde temos o mar por nosso.
Somos
gotas de orvalho
que
se deitam no oceano majestoso.
Vamos
ao mar
e
recolhemos nas mãos os seixos vistosos
as
portas douradas
o
nutriente vitaminado
os
beijos-alimento.
Sabemos
que as ondas iracundas
acalmam
o sangue fervente,
ao
sermos tutelados pelo mar imenso.
É
como se nos deitássemos no mar
e
nele houvesse
em
todas as suas moléculas
um
pedaço de nós.
Um
pedaço maximizado de nós.
Para
sermos colonizadores do mar
e
dele bebermos as doces gotas
do
nevoeiro matinal.
Diremos
aos navios e seus marinheiros
aos
capitães de todas as embarcações
aos
apoderados das ondas
aos
que se ajoelham diante da grandeza do mar
ou
apenas à gente indiferente;
diremos:
que
somos ímpares
depositários
de uma pureza singular
timoneiros
do futuro
olhos
de água por onde os outros olhos vêm
uma
força sem tréguas
poetas
mesmo sem palavras
enlaçados
no tempo inteiro
na
evocação de um tempo pretérito
que
decretamos nosso
e
deuses
de nós mesmos.
Diremos:
cuidar
das destemperanças
erguer
alvoradas despejadas
dançar
coreografias desassisadas
espreitar
nas fechaduras do tempo
deixar
os corpos na sua linguagem
limpar
as lágrimas que coalham os olhos
enquanto
as divindades distraídas
nos
deixam ser as nossas próprias divindades.
Deuses
de nós mesmos.
É
isso que há em nós
é
isso que bebemos das palavras
que
deitamos no fogo.
É
isso que há,
deuses-nós,
nas
funduras de nós que se alinham
nas
fachadas do tempo.