Enquanto
lá fora
as
folhas ganham vida
despojadas
no chão.
Enquanto
lá fora
a
chuva agride a relva
e
o rio ganha volúpia.
Enquanto
lá fora
os
reis habituais reinarem
na
também habitual sobranceria.
Enquanto
lá fora
se
escondem na consciência
os
sótãos da expiação.
Enquanto
lá fora
as
nuvens correm céleres
na
exata medida da preguiça.
Enquanto
lá fora
as
palavras entoadas
forem
pregões vetustos.
Enquanto
lá fora
os
joelhos tiritam de frio
por
o medo subir à boca de cena.
E
enquanto
lá fora
houver
três dentes de tristeza
lágrimas
furtivas de desencanto
punhais
espetados à mercê do desamor
cães
vadios destratados
velhos
e menos velhos corroídos pela solidão
casas
lúgubres medonhamente húmidas
o
odor fétido das fábricas
ideias
comidas pela desonestidade
sapatos
rotos que deixam entrar a chuva
rumores
transfigurados em certezas
ruas
pútridas de gente
e
gente órfã de si mesma:
eu
encontro refúgio cá dentro
onde
se acastelam miragens
doces
enovelamentos de ideias por provar
palavras
que apetecerem
e
sempre,
sempre,
uma
desdança sem gente por perto.
Sem comentários:
Enviar um comentário