7.12.15

Os dados

Jogo os dados
ao acaso
no acaso de quem lança os dados
à quimera de um proveito.
Quase em jeito de roleta russa
o latejo impulsivo de saber
que o fado tem as medidas tiradas
pelo sortilégio dos dados.
Jogo os dados
e talvez não devesse fazê-lo.
Meto o olhar desembainhado pela coragem
na coreografia dos dados.
Os números entaramelam-se
na dança voraz.
Vejo o seis,
o quatro
o um que não quero,
os ímpares que vaticinam desdita
o seis,
outra vez,
o prometido seis,
decaindo para números menos queridos.
Teima em não sair número algum.
A alta parada joga-se em segundos
que parecem medida interminável
horas, dias, meses, anos – até.
Para vir a saber
que os dados dançam
enquanto não vier o sono final.
São os dados dançantes
o pergaminho onde se depositam
as palavras de uma vida inteira.
A quimera de um proveito
ou as cicatrizes de um infortúnio.
À espera dos dados dançarinos.

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