23.12.15

Alvíssaras

Olhos de gato
atiram esmeraldas pela janela fora
enquanto duendes assaltam o sono.
Um barítono dá consigo sem voz
o que lhe vale é ser uma voz
na imensidão do coro.
O arroz quer-se malandro
não fosse o molho ausente
águas-furtadas do inviável repasto.
Um deus sai do galho da árvore centenária
espreguiça-se ao sol madraço
sob protesto dos seus iguais, ainda escondidos.

Os olhos do gato
ciciam as estrofes sem medo.
Os duendes não contam nas contas
deste rosário.
O barítono acorda lavado no pesadelo
testa a voz para testar o pesadelo.
O coro,
o imenso coro,
dorme um justo sono.
O arroz submerso
sente os pés das operárias
que andam na sua apanha.
O repasto
não se sabe quando terá calendário.
O deus impertinente recebeu admoestação
do coletivo dos deuses outros.
A árvore centenária
não deu conta de nada.

Os faróis da coalescência
figuram entre os mais citados.
Querem para si
toda a luz
a diurna e a noturna.
E deixam aos demais
a escuridão
(tão temida por Göthe).

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