3.12.15

Volta ao mundo

Aviões quase estratosféricos
e depois aeroportos apinhados.
Navios mercantes
e marinheiros indiferentes.
Estradas sem fim que povoam desertos
em automóveis decadentes.
Balões cheios de hélio
e paisagens tomadas nas minhas mãos.
Os comboios tonitruantes
e estepes que ficam para trás.
As fronteiras
as fáceis e as impossíveis.
Os meses todos em roda viva
sem calendário à imagem curta.
A chuva tropical
e as neves eternas nas montanhas.
Nos cantos todos do mundo:
os pássaros gaiatos
as avenidas vazias
as águas de cores diferentes
a gastronomia extravagante
os idiomas e as cores de pele
as camas onde o corpo repousou
as xícaras de porcelana ao pequeno-almoço
as senhoras simpáticas dos museus
o trânsito caótico
e a planura sem gente
os meninos em corrupio
a gente que calça pé descalço
os relógios avariados
as fumarolas vulcânicas
e a terra enegrecida
a noite frenética
e a noite sem gente
os garfos pousados no prato vazio
os copos bebidos
as páginas que já não são brancas
mercê das palavras amontoadas.
As chaves para o mundo inteiro
aconchegado
na pequenez das minhas mãos.
E tudo
sem sair do teu corpo.

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