Como no corpo de um astronauta:
o peso sem peso
as veias levitando no porão da magia
e o olhar guloso
abraçando o planeta inteiro
por dentro da sua pequenez.
Da varanda singular
as trovoadas formando-se
contra os medos menores
os mares que saqueiam a terra firme
(assim dissolvida)
os mares ora escondidos nas nuvens
ora na sua imensa massa descoberta
o feitiço do equilíbrio
de um tão frágil equilíbrio
o contraste com o colossal planeta
visto anão ao olhar do astronauta.
Como no olhar de um astronauta:
a pequena mão
capaz de abarcar o planeta inteiro
da sua nudez expondo a fraqueza
à mercê do astronauta emudecido
uma miríade de estrelas por testemunhas
e a sua cobertura
no diametral jogo de sombras
que é inesgotável conhecimento.
Não são
as trémulas mãos do astronauta
juízes embebidos na figura cautelar de Témis
nem são
as mãos de um distante ator
a comandar as vontades das marionetas
depostas sob seu olhar.
Diga-se:
o astronauta foi ao espaço sideral
aprender como são os sonhos.
Não fosse ter data marcada para o regresso
o astronauta
podia passar todo o seu tempo
na contemplação da paisagem
que se abre sobre si.
Agora que não adeja em órbitra
o astronauta
apascenta os sonhos contínuos
aquelas imagens irrepetíveis
guardadas no fundo da memória.