Deletério terramoto
os escombros farejando a morte
e um rio por diante
calmo
em paradoxal configuração das almas.
Não se trata de assuntos urgentes:
a urgência está no seu contrário
no vagaroso escorrer do tempo
em trânsito da contabilidade onerosa.
Dizem que foi (um) deus.
Que punição pode de deus fazer
bondosa entidade,
ó contradição de termos?
A menos
que a rima de vingança com deus
dê como provada a ausência de deus.
Dos escombros
exala um pestilento aroma.
Contrataram cães farejadores
os ladinos contabilistas da desgraça.
Cá fora
o povaréu subsiste
reprime as lágrimas pelos entes decessos
(deve haver um ou outro sob os escombros).
Desfeiteada a hipótese da vingança divina
(talvez
em abono do próprio deus
– ou em favor dos que nele creem)
sobra a maldição.
Um demónio
a soldo de fariseus sem rosto
em contundente empreitada contra este lugar.
Há piores catástrofes.
Há as personificadas
por muito puras, públicas figuras
as que parecem embaixadores do lugar
e não passam de seus octogonais coveiros.
Eles são a deletéria candeia
o apocalipse encomendado
a espada afiada que desce sobre os imprudentes
a provada finitude dos lugares meãos.
Dizem que foi um adeus.