25.4.12

O céu não é o limite


O céu não é o limite.
E o que é um limite?
Se só atavismos ousam esboçar fronteiras.
Os que apoucam a (dizem)
demência dos ilimites
são os mesmos que se cercam de muralhas.
Dessas muralhas verte-se
horizonte sitiado na finitude.
Afinal
as fronteiras fermenta-as o pensamento.
Fora dele
e por dentro do irrefreável pensamento sem peias,
não há céu porque não há limites
(ou não há limites
porque as mãos não se banham no céu,
para o caso tanto faz).

3.4.12

A sangue frio


Descarnado.
Dos excessos que transbordam
no enfurecido cortejo de dias improváveis.
Os sedimentos de tudo,
em sonhos que se desfazem em nada,
vertidos num regaço adocicado.

29.3.12

Roteiro


As cicatrizes sobem no firmamento.
São evocações do futuro
um trovão fulminante, mapa dos devaneios.
O passado foi uma anestesia demorada.
Os dias que importam
têm seu começo no dia que se implora.
Os sobressaltos
nem às lembranças pertencem.

17.3.12

O cais dos murmúrios


Sigur Rós, “It's all allright”

A penumbra convoca murmúrios
no cais sombrio.
Enlaçam-se na paragem do tempo,
o ocaso das tempestades a tecer-se no promontório.
Já só sobra o ouro dos ouvidos
saciados pelos murmúrios.

5.3.12

Os despojos da solidão


Os segundos amotinados
dançam no fuso dos sentidos.
Da tempestade, tão perfeita,
cinzas da fogueira deposta.
O chão, já devolvido ao frio,
testemunha dos despojos.
As escadas deixaram de ser
emudecido lugarejo
onde os dedos se entrelaçam
na finitude do momento.

4.3.12

Dispossessed hands


You’ve dreams within reach
where candles throw out sparkles.
Hands touch the riddles of evanescence.
And yet
interlaced eyes look at fuzzy clouds,
digging for dreams
as they wave promises.
Within reach,
as dreams ought to be?