2.5.24

Material

Os ossos falam pela manhã invernal

como violoncelos que arranham a dor. 

 

O miradouro esconde o luar caiado

na penumbra dos versos destroncados. 

 

Pela voz dos lobos furtivos

a rebelião encosta-se aos dedos. 

 

Atravessam a parede bocas famintas

logram o seu mantimento no avesso da pele. 

 

E os desajeitados deuses

insistem na alfabetização das almas puídas. 

 

Sozinho no escafandro

teimo no colóquio do medo trivial. 

 

Sobram as candeias gastas

a tradução da decadência sem costuras. 

 

O grito mancha o estuque neófito

os demónios (já) não aconselham a juventude. 

 

Sob a aparência de corpos

a ostentação dos envaidecidos mastins. 

 

À mão do poema as sílabas inteiras

um dicionário da audácia completa.

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