17.5.24

Paraquedas

Tinhas de começar o poema por “não”

a maldiga mania de rimares o mundo

com indigência

sem dares crédito às bucólicas criações

dádiva aos nossos olhares

um módico de generosidade

para desmatar a desconfiança embebida

em cada poro da pele que mal respira. 

 

Mergulhavas no poço sem fundo à vista

sem temeres que fosse o poço da morte

e encontravas lenços de linho

calçados pelas cores sem exceção do arco-íris

o beneplácito régio de uma república enquistada

ou apenas uma chávena de café

para dirimir a sonolência

o gesto que mobiliza os espíritos cansados

em turnos sem medida e sem sono

em versos que respiram 

o alecrim baldio. 

 

Alguém disse

as manhãs caem antes do tempo

e ninguém protestou;

não sei se estavam anestesiados

ou se apenas 

se tinham enganado no dia

e entraram pelos bastidores errados.

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