Tinhas de começar o poema por “não”
a maldiga mania de rimares o mundo
com indigência
sem dares crédito às bucólicas criações
dádiva aos nossos olhares
um módico de generosidade
para desmatar a desconfiança embebida
em cada poro da pele que mal respira.
Mergulhavas no poço sem fundo à vista
sem temeres que fosse o poço da morte
e encontravas lenços de linho
calçados pelas cores sem exceção do arco-íris
o beneplácito régio de uma república enquistada
ou apenas uma chávena de café
para dirimir a sonolência
o gesto que mobiliza os espíritos cansados
em turnos sem medida e sem sono
em versos que respiram
o alecrim baldio.
Alguém disse
as manhãs caem antes do tempo
e ninguém protestou;
não sei se estavam anestesiados
ou se apenas
se tinham enganado no dia
e entraram pelos bastidores errados.
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