16.5.24

Destemido

A perna passa o logro 

o corpo pertence à safra

um estuário invisível apetrecha-se 

na audácia dos homens do mar

como se tudo se contagiasse 

sucessivamente

e deixasse de haver 

causa e consequência. 

O cortejo entoa os versos mudos. 

Os rapazes ateados bolçam despautérios

convocam a loucura liberalizada

e correm pela praça fora

atenazando os mirones que fingem incómodo. 

Ali não há nómadas:

os bancos de jardim estão gastos

tão puídos que deles se diria serem escombros

ou em vias de neles se tornarem.

(Ali não há limões,

exuberantes ou limões apenas).

As pernas traçam uma horizontal 

com um banco do jardim

como se tirassem a bissetriz galanteadora

ao horizonte finito. 

O entardecer 

há de ser a rima a propósito

a luz desmaiada como promessa

de outro dia no cortejo que se abona

no astrolábio dos adultos. 

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