O estaleiro oferecia as facas a pedido
não era de estranhar a dica ensanguentada
e os mirones não ocasionais,
arremedos de vampiros culturais.
Os déspotas adejavam entre os poros da nuvens
amanheciam furtando lugares aos inocentes
e nunca fingiam a absolvição
por entre o empedrado gasto e escorregadio
onde o trânsito da manhã se enlutava de sorriso.
A ocorrência tinha de ser participada
mas não havia bombeiros por perto
e a polícia amesendava ao pequeno-almoço.
“É nesta desgraça que estamos”
estremou um habitual desiludido profissional
enquanto limpava o sebo do mundo
à bandeira pútrida que encontrou à mão.
Não fossem concorrentes
bombeiros e bandalhos da desesperança
para se tornarem hemisférios gémeos
e das duas bocas
bolçarem sons guturais e risíveis
como quem fica sob a mira do apocalipse
e começa
a contar números da frente para trás.
Os teares estavam tomados pela ferrugem
os dedos capitularam às artroses
já tudo se adivinhava como profecia do passado
e os rostos embaciados propunham-se
ao desfiladeiro
mas ninguém podia entoar a palavra decadência
não fossem os maus espíritos
soltar-se da hibernação
e, gastos mas ainda fortes,
levassem o braço vencido e enrugado
a admitir o estertor
o timbre venal de quem sabia certo
o desenlace.
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