10.7.15

Do riso diurético

Faz de conta que fui ao médico.
Faz de conta.
E que o médico
inquieto com as maleitas
que eram minha apoquentação
mandou estudá-las.
Voltei ao médico quatro dias depois.
Faz de conta outra vez.
O médico, perplexo,
narrou com técnicos termos
as medidas da maleita que andava comigo.
O médico estava perplexo
mas não era por minha causa;
a perplexidade vinha afivelada
à patologia que era de outros
e pelos outros vinha contaminar-me.
O médico desenganou-me.
A doença pertencia a outros.
Perguntei
se nem pelo contaminante efeito
a patologia passava a ser minha.
(Não que tivesse ambição hipocondríaca;
é que tamanhos sintomas
causavam brotoeja a gente canhestra).
O médico olhou,
com o olhar perdido de quem está longe,
e quando o olhar regressou aos meus olhos,
lavrou prescrição singela:
rir,
rir com gargalhada sonora
demoradamente
um riso espontâneo
desfazendo urros que incomodam a um nada
com a grandeza de um sorriso.
Deixar a agnosia ser programa de humor.
E a todos os canhestros
agradecer
o (meu) sorriso perene.

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