Os
gansos espevitam as asas
enquanto
a lua vem do eclipse.
As
serviçais do convento
lavam-se
na véspera do deitar.
Taxistas
eruditos entoam música celta
em
vez de conversarem com os clientes.
Um
guitarrista cortou as unhas rente
ficou
de baixa por sete dias seguidos.
Os
peitos erguidos ao céu
mostram
gabarito mátrio.
Joelhos
protuberantes
roçam
nos torniquetes do metro.
Aves
canoras estão em greve
só
se ouve o burburinho da cidade.
Um
jovem estudante confia nos auscultadores
enquanto
o mundo gira lá fora.
Muitas
olheiras acotoveladas nos autocarros
denunciam
sonos embaciados.
Doentes
dolorosos pedem morfina
e
os médicos assistem à carnificina na televisão.
Uma
criança está perdida dos pais
chorosa,
errante sem que lhe deem atenção.
As
dondocas ao lado estacionam no quiosque
consomem
as últimas novas cor-de-rosa.
Viciados
em drogas caem no vício
antes
de caírem no deslumbramento da noite.
Um
avô arrasta os ossos até ao alpendre
enquanto
espera que a enfermeira traga o almoço.
O
camionista esfrega o ouvido
com
o mesmo dedo que vai pegar nas azeitonas.
O
escritor absorto numa ideia
e
a tempestade que se abate sobre a rua apinhada.
Um
gato derrete a preguiça
no
cimo de um telhado soalheiro.
Uma
mulher atarefada compra víveres
projeta
a ementa que vai servir ao jantar.
Um
estorninho andaluz cicia ao ouvido
de
quem o quiser ouvir
que
a normalidade não é um indesejo.
Os
planos no estirador são hibernação
adiam
o funeral da normalidade.
Prolongam
a normalidade.
Que
de tanto ser normalidade
Nem
é escutada nos seus rumores.
Por
enquanto
e
por serventia da descoragem
olhares
que se saciam no tempo hoje
devolvem
os planos às imagens céleres
que
correm na tela veloz que é centelha
no
olhar.
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