17.9.15

Rosa estiolada

Uma rosa fechada
resguarda um perfume doce.
Ninguém sabe se o perfume é doce
em estando fechada a rosa.
Deitaram-se ilações em convenção,
que as gentes
gostam de precipitar ilações.
Nem tão pouco é dado a conhecer
se a rosa algum dia abrirá.
As gentes passam o pente pela especulação.
Dizem, uns,
que a rosa medrará carmim
o doce do perfume a entoar morangos.
Outros calculam
uma rosa em amarelo desabrochar
vertendo limão odor.
E outros, ainda,
conjecturam uma rosa branca
inundado o odor de pêssegos.
Mas ninguém dá conta
que a rosa continua fechada
à conta de tanta hipótese afivelada.
E que a rosa
em trejeitos de mau feitio
(assim como quem ostenta
notório poder de contrariar o assente),
teimou em ser casulo.
Pois
perante tanta prosápia
antes ser-lhe cega.
E a rosa nunca chegou a medrar
fora do seu casulo.

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