E eis que chegou um cruzamento
e ele sem saber por onde meter o corpo.
As preces, essas,
subiam à noite, céleres;
talvez denotassem a falta de jeito
para tomar conta de si mesmo
talvez, apenas,
o olhar espreitando no ombro do futuro.
E dizia:
“eu estou apaixonado pelo futuro”.
Andava nisto
tão extasiado com o futuro
que nunca chegava a apreciar
o futuro.
Pois em chegando
o que julgou futuro ser
nessa altura futuro já não era.
Por isso as preces todas.
Queria que o futuro não fosse
um pedaço de vento a fugir entre os dedos
ou um vidro sempre em estilhaços.
E dizia:
“eu quero tanto o futuro
que mal posso esperar.”
Pelo caminho
tropeçou na pressa.
E tropeçou no passado.
Em negação
desaproveitou a mnemónica dos idos
distantes
tanta a febre em agarrar o fugidio
futuro.
Andou nisto o tempo todo.
Quando deu conta
o futuro fora sempre consumido
pela estulta mania de aprisionar o tempo.
O futuro, coitado,
nunca chegara a sair da prisão do passado
de que ele fugia a sete pés.
Em andando sempre nesta empreitada
desaproveitou o ouro maior:
o presente,
o tempo único
que lhe passava pelas mãos.
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