9.11.15

Anjos furtivos

Os anjos são raros.
Escondem-se nas areias molhadas
num sono alquebrado.
Não raras vezes
fazem menção de vir à superfície:
querem espreitar o mundo lá fora.
Consta-se-lhes
que neles vêm a centelha de um tempo radioso,
para quem a penumbra é lugar pesado
como a areia que pesa sobre os anjos.
As pesadas areias molhadas
e o chumbo do sal em que estão imarscescidos
travam o desejo.
Os anjos continuam na demanda ingrata
escondidos como dantes.
E o mundo lá fora
transpira o suor que sempre teve.

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