18.11.15

O elétrico cosmopolita

O elétrico estridente ao dobrar da curva
demove a calma da cidade.
Os dentes rangem
ao contacto com os carris que se dobram em curva,
balizando as ideias.
A esplanada só dista um punhado de metros
dali parece que o elétrico
vem fazer companhia no café.
Prometo:
logo à tarde vou embarcar no elétrico
para matar as saudades da infância
de quando apanhava o elétrico para a escola
e às vezes,
em estando cheio,
fazia o percurso clandestino
pendurado na parte de trás.
Os turistas ordeiros ocupam os bancos de madeira
falam uma cornucópia de idiomas.
E eu sinto
que sou estrangeiro na minha cidade.
Não vem mal ao mundo.
Que a cidade
seja uma constelação de gente diferente
para ver se cresce,
a cidade,
e se emancipa da altiva tacanhez.
Nem que seja preciso pedir favor ao elétrico
que sobe,
compassado,
a rua íngreme.

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