30.11.15

O cárcere invisível

Não digo que sejam certas
as palavras ordeiras
do comendador.
Não digo que faça falta
um azimute afinado
e um ponto cardeal.
Não digo que somos néscios
em demanda de um fio de prumo,
um peso calibrado.

Todavia,
não me parece
que sejamos penhores
das almas outras.
Não me parece
que a tibieza algures
tenha folhos frondosos.
Não me parece
que os olhos alheios
sejam a medida dos nossos.
Nem menos me parece
que temos de alinhar as coordenadas
por uma bússola trespassada.

Já me parece
que a riqueza do ser
obsta ao penhor em mãos
que não sejam próprias.
E mais me parece
que as paredes embotadas
caiadas por mãos externas
são o rosto da descombustão.

Todavia,
em não sendo capazes da lucidez
depressa
somos cobaias do engodo.
Depressa
vemos os olhos hipotecados
ao devir dos outros.
Andamos para trás,
na melhor das hipóteses,
caímos na hibernação timorata.
Não pesamos o campo de minas:
somos existência por diapasão
que nos é estranho,
um eu adulterado
amestrados num rebanho ordeiro
treinados para o não pensamento autónomo.
Não somos a excelência que somos.

Nessa altura,
pode ser tarde de mais
para os alinhavos da alma.
Da penhorada alma
que não se importa com o redil.
Nessa altura,
já não há tempo para os pesares.
Sobra o tempo
para a titubeante errância
para o madraço que há em si.
Orlas de onde não escapamos
de nem sequer sabermos
contar os números
soletrar as cores
ler as pautas musicais
a hermenêutica de um texto;
enfim
de sabermos ser
sem de hipotecados nos sentirmos.

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