21.8.18

A idade sem mácula

Remato o instinto
com a voz grossa dos intrépidos. 
Não era essa chama
que precisava. 
Dantes
quando todas as coisas eram líquidas
a fúria tinha ninho fácil
e o sono embaciava no altar do desassossego. 
Dantes deixou de ser. 
Revejo as cores gastas
onde se consumiram as pétalas caídas. 
Já não sei dos demónios. 
Já não conto as palavras nervosas. 
Já risquei do mapa das intendências
os sequazes da aflição. 
Retiro à candeia
as sombras tumulares
os feitiços gravitacionais
que descosem a fazenda frágil. 
Não preciso de decorar nada. 
As mnemónicas da madurez
vieram tomar o lugar dos ornamentos
dando a simplicidade ao rosto
ao resto que está sob tutela do olhar. 
Às vezes penso
que a leitura da pele
em seu presságio de rugas
é a certidão que precisamos. 
O conto da velhice adiada
é um logro. 

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