22.8.18

Torre alta

Nos balcões estendidos na maresia
intercedo a favor da loucura
dos boémios sentidos da memória
no vulgar dedilhar das páginas em fervor
fecundas sementes do sangue corrente.

Intercedo
em flagrante viagem contra o vulgar
num apanhado de palavras improváveis
deitando os olhos ao céu de espuma
onde dançam
as boreais, lânguidas madrugadas.

Não protesto.
Não devolvo nada à ira.
Canto as músicas que encantam
as músicas quiméricas nos varandins alçados
em constante agradecimento à música 
– a ciência máxima.

Se a mim vierem as sortes
(se por sortes se tiver um fado)
quero que seja um singelo cosmos
poemas destravados
onde as palavras se sobrepõem aos freios
e eu tomo em mim
a inteireza toda
a combustão das coisas gélidas
os braços abraçados ao pequeno planeta 
– o planeta pequeno de mais
para tanta sementeira.

Se a mim vier a fecunda safra
que seja 
uma constelação de aromas
um vulcão indomável
a parafernália de sentidos 
com moldura em palavras
uma imensidão a reclamar lugar ao infinito.

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