15.12.21

Candeeiro

A casa sem verbos:

 

desarruma-se o livro centrípeto

enquanto a maresia desenha as nuvens

e um pedinte, absorto, mergulha na nostalgia.

 

(Fosse esse

o seu único sortilégio.)

 

Não são as décadas que falam;

se ao menos as preces fossem pagas

delas diriam as cinzas 

que os amanhãs compensam.

Mas o caudal vaga na curvatura do rosto

sem que todos os peixes sejam extintos

e as mãos se gastem na estreiteza do labirinto.

 

Às vezes volteio os dados

como se soubesse que desse sortilégio

um desenho reinventado 

seria um oráculo remediado.

Não desisto dos medos que acautelam

em rimas desordenadas

a meias com a meação de que me dou

guardando a parte sobrante 

para juros ulteriores.

 

Se os feiticeiros fossem ao mar

quem sabe se a safra seria generosa?

 

(Ou apenas

a medida da incorrigível cobiça

a forca que se perpetra contra os Homens.)

 

Perguntas como esta

são como dádivas anónimas

um corvo vigilante que segue o rasto do sangue

antes que o sangue seja um diadema

e da carne se exponha uma fratura;

o tempo visível não está à mostra.

Cuidamos das armas que recusam a beligerância

e sabemos

em juras sem procurador

que não sobra ninguém no pútrido campo

onde se terçam as guerras.

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