3.8.22

A garganta da terra

Na garganta da terra:

os lençóis revirados

marca registada do avesso

tatuavam a crisálida

que avivava a melancolia. 

Tirava as medidas ao comboio

que rompia o silêncio noturno;

de vez em quando

ecoavam os nomes

em seus disfarces

de fantasmas.

Os proveitos versados,

anotados em folhas amarelas,

eram olimpicamente ignorados:

falava-se de desmaterializar a matéria

por tudo o impossível que soasse

nas arcádias povoadas pelo escol.

As falas não eram importunadas

ainda que se atropelassem 

num caudal contínuo.

Delas se dizia serem o manancial

de águas frutadas que empunhavam 

poemas.

Esses poemas

eram as mãos que desciam à terra funda,

as mãos fundamentadas

– mãos sinceramente à prova de medo – 

e traziam à superfície

com a mediação de periscópios rigorosos

uma forma de arroz enfatuado,

mas com a devida autorização

dos tutores da república. 

Pois a terra

tinha a sua garganta

e ai de quem 

a quisesse silenciar. 

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