Os estilhaços do Verão
juntam-se às algas
em despojos onde a maré termina.
Os espíritos estivais protestam:
o Verão devia ser mais duradouro
apesar dos corpos suados
das noites de sono embaciado
das ideias anestesiadas
do torpor hasteado em nome do cansaço
herdado do tempo precedente
ou talvez
apenas por causa
da indolência que não paga multa
na demorada temporada
do mui constitucional direito ao ócio.
Os estilhaços do Verão
pressentem a temporada consecutiva
o rame-rame outra vez
o adiamento das coisas que importam
a perene sensação da exiguidade do tempo
a sensação de tirania
exercida sobre quem da faina precisa
para manter o pescoço acima da linha de água
(um eufemismo para a sobrevivência).
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