29.8.22

Estrelas furtivas

Um astrolábio rudimentar

como oráculo:

se fossem visíveis

as constelações apareciam 

com os nomes de flores

e os nomes outros seriam

imitação das constelações.

 

Dizias:

não quero outro paradeiro

a não ser as tuas mãos desordeiras

e eu concordava;

os molhos de jasmim 

cuidavam da minha estultícia,

a estultícia 

(julgava eu)

irremediável,

à mercê do teu patronato diligente

em forma de dissolução desse mal.

 

Teríamos estrelas de atalaia

no intenso precipício acobreado

o breve flúmen pendido no fundo

quase renunciável

quase martirizado pelo estio a desoras.

 

Sabes:

remexi a terra emoliente com as mãos nuas,

nem parece meu, eu sei,

e de lá trouxe os miríficos saberes

que não se cuidam em compêndios vetustos.

 

Se as constelações arcarem os nomes de flores

sabê-las-ei de cor

mesmo nada sabendo sobre as flores

que têm esses nomes.

Sossegas-me

contemplativamente juntando ao havido

que esses são nomes furtivos

como se pertencessem à curadoria

das estrelas-cadentes.

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