30.8.22

O prazo não é um dilema

A poeira não sobe à boca:

não está vento de feição

e neste cais 

as paredes são fortaleza. 

Os tumultos desfazem-se na maré

elidindo os sobressaltos com escritura

dissolvidos num nada sem vestígios por dentro. 

Sem os olhos embaciados

a transgressão esconjura-se

e ficam por contar as centelhas venais

contra as miosótis promitentes

e as páginas esplêndidas que amanhecem

a despeito dos maus prognósticos. 

Os rostos 

amontoam-se nas esquinas da memória. 

Não falam:

passeiam as suas expressões sintomáticas

com a ajuda de sucessivas camadas de silêncio,

a proverbial consumição das palavras vãs. 

As folhas das árvores ainda não estão caducas. 

Resistem

como só os espíritos enraizados sabem resistir. 

Daqui a uns meses

quando as folhas cadáveres derem à estampa

saber-se-á da linhagem das gentes

se conservam a volumetria de deuses improváveis

ou se capitulam

na sincera decadência da sua fragilidade.

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