22.12.23

Agarro-me ao mar enquanto não vou de braços à maré

O estribo aperta o corpo ao mastro

e não há mar em convulsão

mas de gigantes ondas perfumado pela ira

a demover a vontade rainha.

O esqueleto sabe de cor as curvas das ondas

sobe pelo mastro até se tornar altivo

o desafio insolente à pureza cínica do mar;

não se tolhe 

a coragem de marinheiros desta cepa

não desistem da manhã

nem em noites de medonhos pesadelos

boicotam o mar desarrumado

e ordenam

com voz sibilina e estrofes amadurecidas

para o mar se reduzir à serenidade mirífica.

Os navios erram na bússola predestinada

orquestram os sulcos com que colorem o mar

sabendo-se

que neles habitam 

as vozes que desistem da angústia

as vozes que não se esgotam na saliva rarefeita.

São os bancos graníticos que sobem 

quando as ondas se desfazem 

num punhado de espuma

quando se descobre que não há orquídeas;

são as vozes desistentes dos embarcadiços

que não escondem os arsenais sem recursos

as vozes

que desenham os parapeitos

que ajudam os corpos a serem preces

enquanto lá fora

sob os auspícios de uma tempestade armadilhada

os corpos precoces são despedaçados, 

pela centelha que se traduz

em dicionário fora de curso,

por estilhaços.

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